15/05/15

Marco Silva, manter ou mudar?


Em toda esta história contará sempre muito o que aconteceu em Dezembro, talvez até mais que os aspectos meramente futebolisticos. Nunca se percebeu bem o que aconteceu e porque aconteceu (embora muitos tenham certezas absolutas de coisa nenhuma), mas é possível considerar a época antes e após o Natal.

Antes do Natal
 
Uma das coisas que mais ouvimos durante a pré-época é que Marco Silva estava a ser inteligente e a utilizar a base deixada por Leonardo Jardim. Isso era verdade, porque o 11 titular era muito semelhante ao 11 tipo utilizado pelo madeirense, mais nada. Desde cedo que o Sporting começou a jogar diferente, a dominar mais e a defender com menos gente. Melhor exemplo dessa alteração? O jogo contra o Benfica na Taça de Honra. Não interessa a vitória, mas a forma como a equipa jogou. Nesse jogo Rosell descia muito para o meio dos centrais, parecendo um trinco à Jesus, começando a equipa a construir de trás e a 3. Era uma forma também diferente de defender. Mais em bloco e mais à frente, mais à Jesus outra vez.

Naturalmente esta forma de jogar é mais adequada aos objectivos do Sporting e ao tipo de futebol que uma equipa grande deve praticar. Então porque falhava? Jesus é um mestre a defender. Por mais que o queiram catalogar como treinador ofensivo, é essencialmente um especialista defensivo. Porque é o que é mais fácil de ensinar e controlar, não dependendo tanto da qualidade individual dos jogadores. Com adaptações é certo, mas é mais fácil ensinar a defender que ensinar a atacar.

Ora Marco Silva não é esse mestre. Por comparação, o grande mérito de Leonardo Jardim foi esconder as debilidades da equipa. O Sporting não tinha jogadores muito bons individualmente a defender, mas defendia bem. Qualidade colectiva acima da qualidade individual. Marco Silva tentou defender difererente, expondo mais as insuficiencias da equipa. Quantas bolas de golo Rui Patrício salvou? Faltam-me dedos no corpo para as contar a todas.

Por melhor que ataque, por melhor que troque a bola (e o Sporting até o fazia e bem) uma equipa nunca terá verdadeiramente o controlo do jogo se puder sofrer um golo em qualquer jogada. Era esse o grande problema do Sporting "pré-Natal".

Poderia naquela altura a equipa estar a fazer muito melhor do que tinha feito? Provavelmente teria um destino semelhante na Liga dos Campeões e poderia ter mais uns pontos na Liga. Acima de tudo poderia e deveria saber defender melhor nessa altura.

Depois do Natal
 
Como evitar que a equipa sofra tanto a defender, particularmente nos contra-ataques ou ataques rápidos? Limitar a zona onde se perde a bola. Perder a bola nas linhas será sempre menos mau que a perder na zona central. Como é que se consegue isso? Deixando de jogar pelo meio e por consequência, deixando de atacar tão bem e deixando de jogar como equipa grande. Aliando isso a uma melhoria individual dos centrais, o Sporting melhorou um pouco a defender e piorou muito a atacar.

Isto mexe com o rendimento dos jogadores. Muitos criticam Montero por não ter aproveitado a ausência de Slimani na CAN. São os mesmos que assumem (e bem) que o Colombiano é um jogador inteligente e que rende mais com mais jogo entrelinhas. Não havendo jogo entrelinhas, de certeza que Montero renderá bastante com balões para a área não é?

A equipa não jogou sempre mal, mas o pecado estava feito. De quando em vez voltaria algum jogo atacante pelo corredor central. Em alguns jogos, em alguns lances, mas nunca da forma regular que nos valeu, por exemplo, uma passagem limpa no Dragão para a Taça de Portugal.

A recente utilização de Tanaka, Montero e André Martins atenuou o problema, mas já não o podemos esconder debaixo do tapete. A equipa deixou de saber (por opção) atacar pelo meio, restringindo-se muitas vezes ao balão aleatório para a área.


Manter ou mudar
Ignorando as feridas que o Natal deixou. Futebolisticamente falando é uma decisão dificil. O Sporting fez coisas muito boas e coisas muito más na mesma época. Se fosse garantido um Sporting semelhante ao do início de época, com um processo defensivo melhorado e mais capaz de esconder as debilidades dos jogadores, era sem hesitar. Marco Silva seria para continuar.
Se for para manter a ideia da segunda parte da época, futebolisticamente falando, não serve.


Mudar para quem?
 
Fala-se de Paulo Sousa, que com uma equipa barata bateu o pé ao Liverpool. Que outras hipóteses temos? Não vejo muitas. O Sporting (a precisar) tem de ter um treinador que acima de tudo saiba aproveitar ao máximo os jogadores e escolher um modelo e estilo de jogo que lhes assente melhor. Olhando à maioria dos que podem constituir o plantel no próximo ano, será sempre para jogar à grande e nunca na retranca.

4 comentários:

  1. Nalitzis,

    Se percebo o teu texto, o que pretendes é:

    1) uma equipa consistente defensivamente;
    2) Bloco subido com muita variação jogo interior\exterior;
    3) Rápida reacção à perda de bola;
    4) Utilização extensiva de jogadores talentosos em deterimento de "carregadores de piano"

    Acertei?

    Então só tens um nome: Vítor Pereira.

    Bom texto

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    1. Pois! Das poucas coisas que me fizeram "sorrir" no meio daquele circo de Natal, foi o rumor Vitor Pereira. Sempre fiquei abismado como era capaz de manietar as equipas de Jesus. Não é qualquer um que o consegue. Tinha muita qualidade individual, mas também havia unhas para tocar a (boa) viola que tinha.

      Abraço

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  2. Esperemos não estar perante Sousa Cintra/Bobby Robson versão II, com o treinador a rumar a um dos nossos rivais e a ser campeão.

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    1. Riscos todos corremos na vida. Esse poderá ser um deles. Mas também corremos o risco contrário. Imagine-se que o hipotético substituto consegue um brilharete e transforma a equipa de miúdos e tostões num verdadeiro candidato ao título?

      Eu não digo que o Marco é mau. Não acho é que seja tão bom como parecia e como se diz. Tem as suas qualidades, mas também tem (muitos) defeitos.

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